quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

E essas férias que nunca chegam?

Os alunos da UFRB, mais especificamente, do CAHL – Centro de Artes, Humanidades e Letras – estão em clima de final de semestre. Enquanto os outros campi da universidade Federal do Recôncavo da Bahia estão curtindo as férias, o CAHL é o único que ainda está em aula.
Esses estudantes viram um mês de suas férias sendo sacrificados por um problema há muito conhecido por todos eles: a demora da entrega do Quarteirão Leite Alves. Com isso, as aulas de 2009.1 iniciaram com atraso em relação aos outros campi da universidade.
Final de semestre é sempre assim, uma correria contra o tempo e a enorme quantidade de tarefas a realizar. Os estudantes, especialmente os do CAHL, chegam ao exagero de dizer que vão ficar loucos, mas como diz a professora Doutora Renata Pitombo: “A genialidade beira a loucura!”
Em conversa informal, a estudante de jornalismo do segundo semestre, Sueli Alves, revelou a mim a dificuldade que está sendo superar esta fase. Não sabe como lidar com a ansiedade, o medo de tirar nota abaixo da média em alguma disciplina... Então ela come! É isso mesmo: quando está muito ansiosa ela come. Falou ainda que por causa desta ansiedade ela, certa noite, tinha jantado duas vezes, seguido de acarajé com refrigerante.
Será talvez por isso que no final de semestre os alunos ficam mais gordinhos? Mas nem sempre. Acontece também o contrário. Gente que tem tanta coisa para fazer que às vezes sacrifica outras atividades rotineiras para dar conta dos trabalhos. Passa da hora de comer, sacrifica horas de sono, e mais ainda.
O estudante do quarto semestre de Ciências Sociais, Caio Simas, quando chega essa época também só vive na correria. Ele compõe o time dos estudantes que sacrificam outras atividades para suprir as necessidades da faculdade deixando, por exemplo, de ir às reuniões do Grupo Teatral Frutos da Utopia, da cidade de Governador Mangabeira onde mora, para ter mais um tempinho para estudar. E ainda tem mais um agravante: pela manhã tem que trabalhar.
Mas o sufoco vai passar. Dentro de poucos dias o CAHL também sairá de férias e assim os estudantes, exaustos e ansiosos pela tão esperada férias, poderão finalmente descansar e aproveitar o verão da forma que achar mais conveniente.



O Grupo de AA Nova Esperança de Cachoeira
O Alcoolismo é uma doença e não tem cura, mas tem tratamento.

Aconteceu no Centro de Artes, Humanidades e Letras da UFRB no dia 15 de dezembro do ano de 2009 uma palestra sobre o grupo Alcoólicos Anônimos da cidade da Cachoeira. O coordenador, Valter Silva, usou o tempo da aula do professor Carlos Ribeiro para falar aos estudantes do segundo semestre do curso de comunicação sobre a doença e o grupo de nome Nova esperança de A.A. de Cachoeira.
Valter Silva nasceu em Cachoeira em 1931 e é fotógrafo. Também foi usuário do álcool e do cigarro chegando a fumar duas carteiras por dia. Com muita força de vontade – como relata em entrevista – ele largou o cigarro há 49 anos e o álcool há 20. Tem três filhos e está à frente do grupo de AA de Cachoeira.
Segundo o palestrante, o álcool foi a primeira droga difundida. E com a grande divulgação pelos meios de comunicação de massa o consumo ficou ainda maior. O alcoolismo, que segundo esse grupo tem a definição de “doença incurável, progressiva, reflexiva, espiritual, física, mental e de determinação fatal” é a segunda doença que mais mata no mundo, mas antes de matar, desmoraliza o indivíduo. E causa dependência, desenvolvendo assim a doença. Em virtude do problema em discussão, em 1935, nos Estados Unidos em Oregon, foi fundado o Grupo dos Alcoólicos Anônimos.
“O AA funciona como um hospital e uma escola” diz o entrevistado. Para fazer parte desse grupo não é necessário pagar uma mensalidade, pois ele é auto-suficiente e se sustenta com as colaborações dos membros. Mas é preciso principalmente assumir que está doente e que precisa de ajuda.
O indivíduo começa a beber por vários motivos. Seja como um incentivo pessoal – nas palavras do palestrante – ou por simples influência dos amigos. Valter salienta que o AA não condena quem vende e nem quem consome a bebida alcoólica, mas desde quando saiba o momento de parar. Perguntamos quando uma pessoa pode se considerar um alcoólatra, ele respondeu que é quando se perde o controle de si. O alcoólatra perde a noção da quantidade de álcool que o organismo suporta e só para de beber depois da total embriaguez.
O que está faltando – segundo o palestrante – é uma maior orientação na imprensa por parte do governo. Além de fazer as propagandas, é preciso que o governo mostre que se trata de uma droga – quando consumida de forma imprópria – e suas conseqüências. Uma das ações já executadas pelo governo, tendo em vista o combate do alcoolismo foi a “Lei Seca”, como é conhecida aqui no Brasil, aprovada em 19 de julho de 2008, que proíbe o consumo da quantidade de bebida alcoólica superior a 0,1 mg de álcool por litro de ar expelido no exame do bafômetro para quem estiver dirigindo no momento.
O alcoolismo é uma doença e não tem cura, assim como a diabete. Mas pode ser tratada, dependendo apenas da força de vontade do doente em ser ajudado. É nesse momento que o AA entra, como um apoio onde ele pode ajudar e ser ajudado através de depoimentos e desejo de estar bem.
O grupo Nova Esperança de AA de Cachoeira, foi fundado há mais de vinte anos e hoje conta com a participação de mais ou menos 12 pessoas que freqüentam as reuniões todos os domingos.


domingo, 3 de janeiro de 2010



Ítalo Calvino
Um outro olhar sobre o que todo mundo ver


Publicado no século XX, As Cidades Invisíveis foi uma das mais célebres obras deixadas pelo escritor italiano Ítalo Calvino.
Em 1923 nascia em Cuba, mas passou a sua infância na Itália, lugar de origem de seus pais. Depois de abandonar a Faculdade de Agronomia de Turim, ingressa na Resistência Italiana contra o exército nazista, participação essa que o fez publicar o seu primeiro livro, quando já era doutor em letras, em 1947. A partir de 1950 começa a escrever suas obras de maior relevância internacional como O Visconde Partido ao Meio; O Barão Nas Árvores e O Cavaleiro Inexistente.
Le Città Invisibili, como foi publicado pela primeira vez em 1972, tem sua versão traduzida para o português em 1990 por Diogo Mainard e publicado pela Companhia das Letras. Esta publicação reúne em 150 páginas histórias fantásticas de “cidades invisíveis”, ou no mínimo, da forma que Marco Pólo, o viajante contador dessas aventuras, via ou imaginava, talvez.
A obra de Calvino traz como personagens, o já mencionado Marco Pólo: o lendário viajante veneziano, que tinha como função observar as cidades por onde passava e contar para o imperador do reino, o Kublai Khan – o segundo personagem da trama. Este ouvia atentamente tudo o que o seu servo lhes falava, pois tinha o desejo de tornar o seu reino perfeito, e nada melhor para isso do que copiar as formas mais perfeitas das outras cidades, que por sinal, tinham todas, nome de mulher: Olívia; Leandra; Záira e outras mais.
Para contar as incríveis histórias, Ítalo agrupou as 55 cidades em 11 temas, cada uma com cinco aparições: As cidades e a memória; As cidades e os desejos; As cidades e os símbolos; As cidades Delgadas; As cidades e as trocas; As cidades e os olhos; As cidades e o nome; As cidades e os mortos; As cidades e o céu; As cidades contínuas e As cidades ocultas. Cada tema com a sua particularidade.
As Cidades Invisíveis vai ajudar o leitor a ter uma visão diferente sobre como olhar uma cidade, ou até mesmo a sua própria cidade. Ítalo descreve coisas de seu íntimo, coisas que ele notava na cidade, e não aspectos físicos visíveis a qualquer um que passasse até mesmo despercebido. Com essas narrativas, podemos observar que para conhecer realmente uma cidade não basta conhecê-las por meio de atlas – como fazia o rei Kublai Khan – ou simplesmente por ouvir os outros contarem, pois cada um conta segundo a sua subjetividade. Tanto foi que ao final, Khan não conseguiu montar o seu reino da forma que queria, talvez porque aquelas cidades nunca existiram de fato, ou porque ele não poderia dizer efetivamente que as conhecia.
A leitura é recomendada a todos os estudantes ou não, que queiram ter uma visão diferente sobre as cidades, sua, e as demais pelas quais passarem. Serve também de base para estudantes sociais entender como as cidades se comportam.
A escrita do autor é um pouco rebuscada, o que ajuda o leitor a ampliar o seu vocabulário – nada que um bom dicionário ao lado não ajude. Mas isso não impede que o livro tenha uma leitura prazerosa e corrida, apesar de serem vários contos pequenos, outras vezes grandes e intercalados por diálogos entre Kublai e Marco, que nos ajudaram a entender melhor – ou decifrar – de onde vêm as cidades mostradas pelo viajante.